18 de outubro de 2022

Belo Horizonte redobra atenção para prevenir picada de escorpião

PODE SER FATAL

 

Presença do animal peçonhento na cidade se torna mais comum com a chegada do período chuvoso; cidade tem média de uma pessoa picada por dia em 2022

 

Por Pedro Nascimento, Rayllan Oliveira e Raquel Penaforte
Publicado em 18 de outubro de 2022 | 03h00 - Atualizado em 19 de outubro de 2022 | 11h35

 

Escondidos em cantos e entulhos, entocados em matas ou áreas repletas de lixo. Os escorpiões não têm toca específica e costumam sair de seus abrigos nesta época do ano para se reproduzir – uma fêmea pode gerar até 25 filhotes sem ser fecundada por um macho. A picada do animal – que pode ser fatal – acontece geralmente nesse deslocamento.

Em 2022, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), pelo menos uma pessoa precisou de atendimento médico por dia após ser picada por escorpião. Os dados consideram os meses de janeiro a setembro, quando foram registrados 341 casos.

Segundo Eduardo Viana, diretor de zoonoses da PBH, é nesta época do ano que a presença do escorpião se torna mais recorrente. “Com o início da chuva, os escorpiões abrigados em locais afetados pelo excesso de água são desalojados. Nesse mesmo período, o alimento mais abundante para escorpiões em espaços urbanos, que são as baratas, também aumenta”, explica.

Foi o que aconteceu recentemente com o oficineiro Gleisson Rodrigues Batista, 39, que levou um susto quando viu dois escorpiões saírem de uma caixa de água pluvial que ele mantém no quintal de casa, no bairro Cabana do Pai Tomás, na região Oeste de Belo Horizonte. “Eu, minha esposa e um amigo vimos os animais. Nunca tinha acontecido aqui, então foi uma reação inesperada. Meu amigo que ajudou a matar”, relembra. Apesar do susto em casa, Gleisson conta que os escorpiões não são novidade na vizinhança. “Aqui por perto aparecem com frequência, principalmente para quem mora mais para baixo da minha casa”, afirma.

O animal vive, em média, cinco anos. A espécie mais comum em BH é a Tityus serrulatus – também conhecida como “escorpião amarelo”. Segundo a bióloga Maria Elena de Lima, especialista em toxinologia e professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o tamanho dele pode até enganar. “Eles não são muito grandes, mas o veneno é muito potente e pode causar problemas cardíacos e uma dor muito intensa. Uma picada pode levar à morte, principalmente de crianças e idosos”, alerta. Os escorpiões pretos costumam causar acidentes nas áreas rurais.

 

O que fazer?

A recomendação para quem foi picado por um escorpião é procurar, imediatamente, um hospital de referência para que o tratamento seja iniciado com rapidez. “O que se recomenda é que tenha urgência e, se possível, que se capture a espécie que causou a picada, para que o médico saiba a melhor maneira de tratar”, diz Maria Elena de Lima, professora do ICB da UFMG.

Em todo caso, mesmo que não haja nenhum acidente, a recomendação da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) é que a presença do animal seja alertada para o serviço de zoonoses. “Se o escorpião apareceu, causando acidente ou não, a Zoonose tem que ser acionada pelo BH App ou pelo telefone 156. Uma equipe é encaminhada até o local, que vai avaliar os riscos. O importante é evitar locais que possam servir de abrigo para os escorpiões e de acesso para que o escorpião saia”, explica Eduardo Viana, diretor de Zoonoses da PBH. Em Belo Horizonte, o hospital de referência para esse tipo de tratamento é o Pronto-Socorro João XXIII, na região Centro-Sul da capital. “Todo acidente é grave e pode colocar a vida da pessoa em risco”, alerta Viana.

Segundo o diretor de Zoonoses da PBH, ainda que não tenha ocorrido o acidente, com a picada, é importante que a Zoonoses seja acionada para vistoriar o local onde o animal foi encontrado.

Além disso, ele orienta que a aplicação de qualquer veneno seja feita por uma empresa de dedetização especializada nesse tipo de serviço e credenciada pelas autoridades sanitárias. “Evite ao máximo o uso de inseticidas, desses de supermercados. Isso deve ser feito por uma empresa ou pela Zoonoses”, reforça.

 

Funed se prepara para voltar a produzir antídoto

O soro antiveneno que é usado no tratamento para picadas de escorpião deverá voltar a ser produzido em Minas Gerais em breve. A produção foi interrompida há cinco anos, quando a Fundação Ezequiel Dias (Funed) deu início a um projeto de adequação física de sua planta para atender necessidades relacionadas às normas de boas práticas de fabricação.

Atualmente, segundo a Funed, já há um processo de produção em andamento e que aguarda somente as validações necessárias pela legislação sanitária, para que o fornecimento possa ser retomado e o soro passe a abastecer os hospitais não só de Minas Gerais, mas também em outros Estados do Brasil.

Por três anos, entre 2014 e 2016, a Funed foi a única produtora deste tipo de soro no país. Nesse período, outros institutos que também atuam na área, como o Vital Brazil, no Rio de Janeiro, e o Butantan, em São Paulo, também passaram por adequações em seus parques tecnológicos. Hoje, são esses dois institutos que estão responsáveis por fornecer os antivenenos que são entregues ao Ministério da Saúde e distribuídos aos Estados.

 

Fonte: Jornal O Tempo

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